segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Sozinha


''Você aparenta ter envelhecido seis anos''
Era isso que dizia o reflexo no espelho. A menina mantinha a olhar-se hipnoticamente. Tinha os olhos como vidro e sem nenhuma emoção neles. Pareciam névoa tentando fugir do medo, cautelosos e sem transmitir algum sentimento.
''Quem é você, alguém, que nunca vem?'' Sua mente sussurrava enquanto ela se olhava.
O seu dia começava ao meio dia e terminava as três da manha com ela rolando de um lado para o outro na cama, tentando fugir dos pensamentos que lhe assombravam a mente.
Ela não expressava nada, tinha cansado de chorar, tinha cansado de implorar por ajuda, tinha cansado de ter fé.
Ela amava as palavras. Na maioria das vezes eram elas quem a confortavam nos maus momentos. Mas agora, nem mesmo escrever, ela conseguiria.
Seu amado estava longe e mesmo quando ela tentava se reconfortar em um telefonema, suas palavras eram jogadas de uma só vez, sem fazer o verdadeiro sentido da necessidade da ligação. E a conversa era mais como uma obrigação do que uma empolgação.
Seus pensamentos caóticos a matavam. Ela se matinha em casa, trancada e sozinha durante o dia que às vezes parecia se confundir com a noite. Sua única e aceitável companhia era um livro e o som do piano quando o tocava ao som de ''canon''.
Ela parecia estar em um túnel fechado. Tinha cansado absolutamente de tudo, tentava encontrar entre seus amigos, aquele que ela precisava. Aquele em que ela poderia conversar e confiar. Não havia ninguém, mas faltava alguém. Parecia que ela estava se esquecendo da pessoa principal. Ela tentava encontrar esta alma sem rastro. E não havia êxito. Faltava aquela pessoa que em todo caso, poderia ser a sua melhor amiga, ou o seu namorado que tanto amava. Ou talvez até aquele velho inimigo quase amigo do passado. Apesar disso, não era nenhum deles. Mas ela sabia que faltava alguém que a entenderia perfeitamente. Alguém que talvez ela não conheça, mas sabe que conhece desde sempre. Alguém que talvez não exista, mas exista dentro si. Alguém que pode salva-la e ela continua a esperar esse alguém ausente e inexistente chegar.
Depois da ligação que deveria ter sido trocas de afetos e não de informação, com aquela única pessoa que ela ainda pensa que ama. Olhou-se no espelho e espantou-se com a imagem que viu. Os olhos vidrados sem nenhuma emoção. Que no lugar da vida que havia neles, tudo agora, era névoa. Ela não transmitia nenhum sentimento!
- Você aparenta ter envelhecido seis anos.- Diz o reflexo no espelho.- Há rugas aqui que jamais existiram em ti.
Sua tristeza era notória e a corroia por dentro. E a única pergunta periódica e crescente, expressos em seus olhos de vidro era:
- Quem é você, alguém, que nunca vem?
A verdade é que, talvez, não seja ninguém!

3 comentários:

  1. De novo.. brilhante. saudades. não poder mais bater os papinhos cm vc me entristece e me afunda em solidão.

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  2. Adorei o texto. Pena que muitas pessoas vivem assim na realidade.

    Beijos

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  3. Kaline, obrigada pelo selo e muito bom seu post, flor! Sempre fico encantada com seus comentários, incentivando-me a escrever um livro, não és a primeira a dizer isso... Mas, creio eu que guardaria o livro pra mim, apenas pra mim. Egoísmo né ? ><

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